sábado, 1 de janeiro de 2011

Capitulo 6 - Mistérios

mar brilhava com fulgor sob a luz da lua, as ondas como de costume estavam se chocando com as pedras, algo naquela paisagem era reconfortante. Eu sempre fora fã de lugares infaustos, e isso era a coisa mais estranha sobre mim, e é por isso que atualmente eu definitivamente amava Elyon, por ser um lugar sinistro mais ainda sim muito elegante, um lugar quase sempre gélido, onde coisas que os humanos julgam fisicamente, quimicamente ou cientificamente impossíveis acontecem, um exemplo é que no mundo normal é climaticamente impossível nevar em uma ilha tropical, e ainda sim me disseram que aqui neva no solstício de inverno. Elyon é como um mundo de possibilidades pra mim. No começo pareceu assustador. Mas agora eu sinto como se algo excitante pudesse acontecer a qualquer momento, o engraçado é que só é excitante pra mim, porque eu sou a única que fui fortemente influenciada pela cultura humana.
Ok!
A minha cultura é totalmente humana, o mundo sobrenatural só me era acessível nos finais de semana, eu era a bruxa excluída e só fui incluída agora por que minha situação de descontrole estava critica.
De repente eu fiquei tão reflexiva, melancólica e excitada, eu sabia que não era TPM, eu nunca mais teria aquilo. Mas o que era então?
Era como se as vibrações dentro de mim tivessem mudado, meus sentimentos estavam desregulados, eu estava muito triste mais eu também estava muito feliz, eu estava com vontade de chorar e ao mesmo tempo gargalhar. Meu Deus. A única vez que eu senti algo parecido, foi quando eu bebi pela primeira vez, mais os sentimentos vieram em seqüência, primeiro eu ri muito sem motivo e depois eu chorei, não era tudo de uma vez como agora.
Aquela talvez fosse à hora de ir dormir, eu planejava ficar sentada pensando na vida até o por do sol, mais agora eu estava um pouco... Estranha!
‘’Você tem que retornar ao seu dormitório’’ - Aquela voz angelical disse em tom autoritário.
A primeira coisa que eu vi foi o sobre-tudo preto esvoaçando, e depois senti mais vontade de rir e chorar.
Então eu soube que aquela era a resposta para o meu repentino sentimento turbulento, assim como era a resposta a presença que eu senti na cidade e de alguma forma eu sabia que estava relacionado com os sussurros também. Ceifadores provocavam reações estranhas em mim. Credo.
‘’Não tenho não’’ - Disse gargalhando
Ele se aproximou e me olhou seriamente, como se não tivesse acreditando que eu tinha desacatado sua ordem, afinal ele era um ceifador.
‘’Não tem?’’ - Ele me olhou desafiadoramente. Eu deveria sentir medo, eu sabia que quando um ceifador mandasse eu tinha que obedecer.
‘’Na verdade em Elyon nos podemos ficar acordados até a hora que quisermos, e isso inclui perambular por ai’’ - Eu fiz um esforço tremendo mais finalmente consegui estabilizar meus sentimentos.
‘’As regras mudaram Salonen’’- Ele continuava me encarando, como se pudesse ver através de mim. Talvez ele pudesse mesmo.
‘’Justo hoje? Poxa vida, é a primeira vez que eu fico fora do meu quarto de madrugada, e agora eu tenho que voltar?’’
Ele assentiu com uma expressão séria.
‘’De qualquer jeito eu já ia voltar agora mesmo’’ - Disse no mesmo tom leviano e pouco refletido de uma criança de seis anos. Comecei a dar passos largos, eu tinha que me afastar o mais rápido possível, eu tinha que me livrar daquela influencia  que fazia meu raciocínio falhar.
‘’Diana’’ - Ele chamou em um tom melodioso e agradável.
Eu me virei com o coração palpitando.
 Ele sabia meu nome!
‘’Sim?’’- Tentei dizer normalmente.
‘’Com o que exatamente você sonhou hoje?’’
‘’Na verdade... ’’ - Eu comecei a falar mais depois me lembrei do pedido do meu avô, eu tinha que fingir que havia sido tudo um grande mal entendido - ‘’Eu não lembro direito, só sei que com o barulho de janelas explodidas eu acordei assustada... E...’’
‘’Continue’’
‘’E daí eu achei que tinha sido eu, mais depois que eu acordei direitinho, eu cai na real... Eu não seria capaz de fazer um estrago daqueles’’ - Menti na maior cara de pau.
‘’Tem certeza de que não foi você?’’ - Ele perguntou acusatório com uma das sombracelhas levantadas.
‘’Tenho’’
‘’Eu não sei Diana’’ - Ele tentou fazer contato visual mais eu desviei rapidamente- ‘’Você me pareceu bem convicta sobre ter feito tudo aquilo’’
‘’Você sabe como é que é né... Às vezes quando acordamos ficamos meio desnorteados’’ - Dei uma risadinha, se a minha história mal contada não tinha me entregado a risadinha com certeza tinha.
‘’A questão é’’ - Ele se aproximou um pouco mais de mim, insistente em fazer contato visual, eu me senti intimidada- ‘’Porque você está mentindo?’’
‘’Você acha que eu estou mentindo? Que absurdo!’’ - Eu simulei um falso ressentimento de pessoa ofendida.
‘’Você sabe que eu não acredito em você, nem você acredita’’ - Ele deu um leve sorriso como se tivesse se divertindo com a minha inabilidade de mentir. 
E eu me senti mole e patética por estar inexplicavelmente fascina por alguém que eu nem sequer conhecia. Aquilo era tão novela mexicana.
 ‘’Eu não quero fazer disso grande coisa Diana, por isso eu sugiro que você me conte’’
‘’Eu realmente preciso ir’’
‘’Se você quer...’’ - Ele disse com um sorriso misterioso no rosto, e eu não entendi o porquê - ‘’Tente inventar uma mentira mais convincente, amanhã nós voltamos com as perguntas’’
Me senti estressada - ‘’Porque é tão importante saber sobre isso? Foi só um sonho, MEU sonho’’
‘’O meu dever é investigar qualquer anomalia que ocorra por aqui, e é por isso que eu preciso saber o que foi aquilo, porque aquilo não foi um sonho qualquer, e você sabe disso’’
‘’Vocês não deveriam fazer tempestade no copo da água por pouca coisa’’ - Eu disse esfregando meus olhos, me sentindo gradativamente cada vez mais cansada e ainda sim maravilhada com o meio anjo na minha frente.
‘’É assim que as coisas devem andar’’ - Ele respondeu.
Então quer dizer que o drama todo era realmente necessário? Às vezes os imortais são tão cansativos.
‘’Eu não acredito nisso'' - Comecei com a minha típica tagarelice de nervosismo enquanto dava voltas ao redor do banco. ''Vocês poderiam resolver as coisas elegantemente, não precisava vir aqui e ameaçar todo mundo... E afinal o que aconteceu pra vocês aparecerem?'' 
Eu olhei ao meu redor, mas nem sinal do ceifador, ele tinha se desintegrado e me deixado falando sozinha.
Ótimo.





 E-MAIL RECEBIDO

De: Natalie Viscont
Para: Diana Salonen
Enviado: Segunda, 11:45 pm


Diana,

Agora que você se tornou uma bruxinha os dias aqui tem sido entediantes, o colégio Santa Maria já era chato contigo, agora então...
Numa hora dessas eu imagino como seria se eu tivesse seus poderes de explodir. O meu primeiro alvo seria a sala da irmã Salete, ô tiazinha chata do caramba.
Mas você sabe como é, infelizmente Deus não dá asas para cobras.
Bem que você poderia ter uma vassoura pra vir me visitar né?
Queria muito poder conhecer esse seu novo mundinho de vampiros e bruxas, mais os imortais metidos não gostam de simples mortais como eu... Oh vida!
 (Tenta fazer uma barganha pra transforma sua Best em vampira)
Barganhas a parte
Enquanto eu estou tento aula de estudos religiosos com mulheres e padres que assumiram o compromisso de castidade você esta tendo aula de manipulação com um professor super gato que com certeza não te induz a renunciar sua vida em sociedade e virar uma mulher consagrada de Deus.
E uma professora hippie? Que meigo, eu adoro hippies. (Os que tomam banho). Ela também é a favor da emancipação sexual e a pratica de nudismo? Curte Marijuana?
AMOR LIVRE E NÃO VIOLÊNCIA SEMPRE!
Ah... Quem é que não teve sua fase hippie ein?
Bons e velhos tempos na comunidade
E você ainda reclama de ir pra cidade de bote, semana que vem nos vamos ao museu de astronomia com o bom e velho buzão de excursão isso te comove?

A única novidade que eu tenho pra te contar, é que no final do mês nós vamos fazer a peça teatral de Jesus, (Com cruz, chicote e tudo) e eu realmente gostaria que você pudesse me ver arrasando de Maria Madalena.

   Amiga, infelizmente a irmã Lurdes esta aqui no meu pé lembrando que como penitencia por ter sido malcriada eu tenho que ajudar o padre Ludovico com os preparativos da missa.
Infelizmente o tempo na internet aqui é limitado, ai de mim se eles descobrirem que eu estou mandando um e-mail pra você ao invés de pesquisar os quatro evangelhos canônicos.   
É melhor eu ir !

 Mais tempo pra Deus e menos pra coisas mundanas. Amém
   Futura irmã Natalie (Até parece)

Ps: O que aconteceu na cidade? Algum peguete? Me conta TUDO! 


‘’Existem diferenças entre, influencia social, manipulação mental, e coerção... Hoje nos vamos treinar vasculho mental, o dever de vocês emissores é tentar invadir a mente dos receptores... Se separem em duplas, nós vamos trabalhar invasão e bloqueio, vampiros vasculham e bruxos tentam bloquear ...’’ - 
Como o professor Alexy estava particularmente sexy e parecido com o Jude Law sentado na ponta da mesa em um postura relaxada naquela tarde, eu resolvi não levar em consideração o negócio sobre vampiros vasculharem e bruxos tentarem bloquear.
‘’Essa vai ser moleza’’ - Disse Freida convencida. 
‘’Eu não teria tanta certeza se fosse você’’ - Ula a bruxa índia nerd disse enquanto arrastava sua carteira para ficar na frente dela.
‘’O que você esta fazendo aqui?’’ - A vampira perguntou em uma voz aguda e inarticulada que penetrou minha mente e provavelmente do resto da classe também.
‘’Você se lembra do que Alexy disse, vampiros vasculham e bruxos bloqueiam’’ - A bruxa respondeu enfadada.
‘’Então você acha que pode me bloquear?’’- Freida riu presunçosa - ‘’Se você faz questão então vamos ver do que a bruxa nerd é capaz’’ - O sentimento de superioridade emanava de seus poros.
Aula de manipulação era conhecida como a hora da vingança entre bruxos e vampiros, à hora de provar qual espécie era melhor, se algum bruxo tinha alguma coisa contra os vampiros ou vice- versa aquele era o momento de descontar, a única aula em que um pequeno grupo exclusivo de ambas as espécies tinham em comum.
‘’Pronta para me mostrar seus segredos?’’ - Perguntou Apollo enfatuado.
‘’O que te faz pensar que você vai conseguir?’’ - Eu tentei dizer no mesmo tom vaidoso, tentando demonstrar uma confiança que na verdade eu não tinha, quer dizer, eu era um desastre em quase todas aulas em Elyon e sabia disso, eu até fiquei recente conhecida pelo campus inteiro como a bruxa sem auto- controle, e pra constar essa é uma das piores ofensas para um bruxo. Não que eu me importe.
Infelizmente, o ocorrido com o lustre e a janela se espalhou mais rápido do que fogo no palheiro. Graças às fofoqueiras de plantão da torre sul.
‘’Isso é tão injusto’’ - Desmontei minha pose arrogante e comecei a reclamar - ‘’Ter a mente vasculhada não é nada legal, agora vasculhar... ’’
‘’Isso de fato é verdade’’ - Ele arrastou sua cadeira para frente da minha - ‘’Você ficou com a pior parte’’
‘’Pegue leve comigo’’ - Eu pedi encarecidamente.
‘’Não garanto nada’’ - Ele deu um de seus típicos sorrisos de canto, estava tentando me seduzir na cara dura.
‘’Ok’’ - Eu respirei fundo - ‘’O que exatamente eu tenho que fazer?’’
‘’Apenas crie uma barreira na sua mente... Ou se você preferir... -‘’

‘’Criar uma barreira na mente?’’ - Eu o interrompi - ‘’Como se faz isso?’’
‘’Eu vou saber’’- Ele respondeu desinteressado
‘’É fácil querida, é só imaginar um espírito da paz e um grande oceano de luz branca de ser luminescente’’- Freida que se julga indispensável para os assuntos alheios disse num tom exageradamente zeen, e é claro que Pauline sua fiel seguidora tinha que gargalhar exageradamente.
Sério. Não tinha graça.
‘’Ser luminescente?’’ - Eu perguntei. ‘’Que merda é essa?’’
‘’Não dê ouvidos a ela Diana, isso não existe’’ - Ula  disse enquanto um Apollo retardado se segurava para não rir.
‘’Não?’’ - Eu perguntei na minha ingenuidade de novata no mundo imortal.
‘’Não Diana, ela só esta curtindo com a sua cara’’ - Ciro um bruxo ruivo gracinha de uma das ramificações realeza que havia me guiado no primeiro dia estava sentado com Pauline disse - ‘’Na verdade é bem simples o bloqueio, quando o vampiro faz contato, o bruxo sente os círculos de energia, e uma vez que você sente você pode canaliza-lo... É fácil’’
‘’Aaa... obrigado’’ - Respondi com meu sorriso amarelo de não-entendi-nada.
‘’Estraga prazeres’’ - Apollo murmurou em um tom quase inaudível.
‘’Então você queria ter acesso livre a minha mente?’’
Ele colocou o dedo indicador entre os lábios ‘’Xiiiu’’
Então a sala inteira ficou em silêncio.
Todos com os mesmo objetivos, invadir ou proteger.
Eu encarei Apollo apreensiva por alguns segundos. E se por acaso ele vice alguma coisa que não deveria? A idéia de ter minha mente invadida e meus pensamentos mais íntimos revelados era desesperadora.
Sinta os círculos de energia, canalize, Sinta os círculos de energia, canalize...
Eu me agarrei as poucas informações que eu havia recebido de Ciro, na pratica era mais bem mais difícil.
Sinta ele fazer contato e então canalize - Eu repetia debilmente pra mim mesma.
Apollo estava tentando manter o olhar afiado enquanto se segurava para não rir. Completamente compreensível porque quem é que não riria me vendo em uma luta interna?
E assim nos seguimos por uns cinco minutos, Apollo me perfurando com o olhar, e eu repetindo o meu mantra de sentir e canalizar.
Tentando me concentrar no silêncio da sala e não nos rostos contorcidos de alguns que formavam expressões engraçadas.
Até que aconteceu.
 Muito rápido.
Apollo sorriu, logo em seguida seus olhos ficaram vermelhos, eu levei um susto, mais não tive nenhum tipo de reação porque segundos depois eu me senti desabar e... e...
 Ele estava na minha mente!
O que descreveria aquela sensação?...
Eu não sei dizer ao certo.
Talvez um mergulho para uma profundidade insondável e tenebrosa.
Um estado intermédio entre a consciência e inconsciência.
A ultima coisa que se passou pela minha cabeça era em como eu odiava Apollo, eu o odiava por me fazer sentir daquele jeito, como se eu tivesse perdido o rumo, o sentido de direção, completamente desalentada.
Mas aos poucos eu deixei de sentir, pensar, imaginar. Tudo que fazia parte da minha consciência intima não fazia mais parte de mim, eu agora estava no papel de espectadora das minhas próprias lembranças.

Aquele lugar... A grande janela de vidro, a mesa de carvalho, eu estava naquele corredor novamente, só que dessa vez a minha associação de imagem era desconexa.
‘’Isso é loucura’’ - Uma voz familiar que eu reconheci como masculina disse -‘’Não quero fazer parte disso, se queres ser aniquilado faça-o sozinho’’
A curiosidade me levou até a frente do quarto de onde vinha a voz, sem pensar duas vezes eu encostei meu ouvido na porta.
‘’Eu vou lhe esclarecer uma coisa... Existem dois lados, o que perde... e o que ganha’’ - Outra voz masculina disse calmamente- ‘’Eu só quero dizer-te que não perdôo e nem atenuo felonia, ou tu estas comigo ou não estas’’
Eu reconheci aquela conversa imediatamente como sendo de Tagore e Hanzi, mas é claro, era a única conversa entre dois indivíduos que eu precisava acompanhar com um dicionário.
‘’Tu perdeste a cabeça’’ - Disse Hanzi indignado
‘’E tu perdeste a ambição, a expectativa de vida’’ - Rebateu meu avô
‘’Se fizeres isso não haverá expectativa de vida...  Para ninguém!’’ - Eu quase não acreditei no que identifiquei, aquilo era medo na voz de Hanzi?
‘’Nesse ponto se burlas, e tu sabes disso, só que estas com medo’’
A sala ficou em silêncio por alguns segundos e tudo que eu podia escutar era o som da minha respiração.
‘’Quando foi que tu ficaste destituído de coragem? Quando foi que ficaste temeroso até a covardia?’’ - Meu avô e a sua mania de querer pegar na veia, apelando para o ego, quebrou o silêncio.
‘’Somos poderosos, mais não ao ponto de levantarmo-nos contra o céu’’
Confesso que a ultima frase me fez ficar com vontade de rir.
Onde já se viu, levantarmo-nos contra o céu
Hilário.
‘’Quero lutar pelo direito de proceder conforme nos pareça’’ - Meu avô disse como se estivesse falando das mais queridas das aspirações.
‘’Mas é assim... Fazemos o que bem entendemos, somos a lei’’
‘’Somos uma lei limitada, submetemo-nos a outras leis, existe uma autoridade soberana sob vós’’- Tagore disse em um tom frio
Silêncio novamente.
‘’A sua neta? Tu usarias a sua neta?’’ - Hanzi e seu forte sotaque francês, prendeu minha atenção.
‘’Para sermos livres, temos que sacrificar algumas coisas’’ - Disse meu avô com naturalidade
Era como se meu corpo inteiro tivesse se solidificado. Eu fiquei parada sem reação, tentando entender o que eu havia acabado de escutar, aquilo era desconcertante quando interpretado ao pé da letra. Eu serviria para algum tipo de sacrifício?
Mais espera Hanzi não especificou qual das netas, pode ser... Bluma, isso!
O pensamento me proporcionou alivio momentâneo... Até eu cair na real. Bluma podia ser mandona, narcisista, fútil, prepotente e enjoada às vezes, mais nem por isso eu queria que ela fosse sacrificada, seja lá o que isso significasse, ela ainda era minha irmã.
 Se fosse ela ou eu o suposto sacrifício para a suposta liberdade, não fazia a mínima diferença, ainda era o meu avô desnaturado e aparentemente maluco também, falando sobre a renuncia voluntária de uma de suas netas.
Eu estava tão perdida em meus pensamentos perturbadores que não percebi o quão silenciosa a sala ficou, e aquele não era um silêncio de pausa de conversa, era o silêncio de dois imortais a espreita para pegar o enxerido que estava escutando a conversa atrás da porta. No caso eu.
Antes de ver a maçaneta girando eu já estava deslizando violentamente pelo corredor como um tufão, arrastando tudo que estava no caminho, simplesmente não pude conter aquele impulso espontâneo, sem nenhuma reflexão, eu corria como se minha vida dependesse daquilo.
Pra onde eu estava indo? Eu não fazia a menor idéia, talvez a única coisa que se passava pela cabeça era em um modo delicado de contar para Bluma que uma de nos seria sacrificada, talvez não no sentido mais puro da palavra, mais ainda sim, uma de nos fazia parte dos planos maquiavélicos do nosso avô e...-

Capitulo 5 - Deja vu

  
Ele tinha os cabelos preto ébano estrategicamente desarrumados, seus olhos eram de um azul claríssimo que nenhum humano jamais poderia ter.
O sobretudo nada convencional lhe caia perfeitamente bem.
Deus caprichou particularmente nele, e pelo seu posto se podia deduzir que ele não havia retribuído a proeza.
Eu estava tão ocupada secando o ceifador que nem percebi que a energia explosiva já tinha cessado, e também que tinham nos dispensados.
‘’Eu não acredito que você não tinha nos contado sobre sua família’’-Aislin dirigiu a palavra a mim quando todos estavam esvaziando o salão.
‘’O que tem a família da Diana?’’ - Magdalene perguntou enquanto observava suas unhas perfeitamente manicuradas.
‘’Diana é Neta do Tagore, aquela que nasceu no século XXI... Mas é claro! Como eu não tinha relacionado isso antes? Quantos imortais nasceram neste século?’’ - Ela deu um tapinha na sua testa, e eu não sabia se ela estava brava por eu não ter contado ou por ela não ter descoberto.
‘’Você é da família real? E não compartilha um bafão desses com as amigas?’’- Magdalene fingiu estar perplexa.
‘’As famílias a quais pertencemos tem alguma relevância?’’
‘’Se você pertence à família real, SIM!’’ - Aislin me olhou bicuda, pela primeira vez ela estava agindo como uma criança, bom, a cara ela já tinha.
‘’Me desculpem eu não sabia que era tão importante’’- Eu fingi estar ofendida, e as suas expressões indagadoras suavizaram.
‘’Talvez não seja assim tão importante’’ - Aislin disse por fim. ‘’ Mas de qualquer jeito você poderia ter comentado poxa’’
‘’Quer saber do que mais, vamos seguir o fluxo e esquecer toda essa coisa de família, ceifadores e tudo mais’’ - A vampira começou a empurrar eu e Aislin pra saída - ‘’Eu quero muito tomar um banho e secar meu cabelo ’’

Voltamos para os quartos cochichando, todos pareciam assustados com a situação, e não era pra menos, os nossos hospedes nada mais eram que os nossos inimigos naturais.

‘’Que dia em!’’ - Magdalene voltou do banheiro ainda com a toalha na cabeça.
‘’Nem fale’’ - Aislin estava lendo um livro
‘’Por que exatamente eles estão aqui?’’ - Perguntei
‘’Alguém aprontou’’ - Magdalene respondeu.
‘’Bem, isso é obvio, a questão é o que aprontaram?Nós ficamos um tempão escutando ameaças, mas nem sabemos o porque.’’
‘’Algo a ver com humanos eu acho’’ - Aislin tirou os olhos do livro, de repente ela ficou estranha.
‘’Você sabe de alguma coisa?’’ - Magdalene abriu seu closet
‘’Não.’’ -Ela  respondeu rápido demais. suspeito
‘’Fala logo’’
‘’Bom... É que, eu tive sonhos... ‘’- A bruxa disse distante - ‘’Eu sabia que eles viriam da mesma forma que eu sabia que vocês viriam antes mesmo de vocês chegarem a Elyon’’ - Ela fez uma pausa, e eu me lembrei do meu primeiro dia quando ela já sabia o meu nome e o de Magdalene - ‘’Hoje na cidade aconteceu alguma coisa que acionou os ceifadores, eu não sei o que, mais tive medo que se permanecêssemos lá naquele momento, poderíamos ser de alguma forma relacionadas com o que quer que tenha acontecido, por isso nos saímos de lá às pressas.’’
‘’Bom na cidade você estava realmente estranha, eu achei que fosse parte da sua natureza de bruxa louca’’ - Magdalene brincou
‘’Aquilo foi porque a Diana supostamente estava sentindo a presença deles, o que confirmou o meu mal pressentimento e meus sonhos, só que mesmo assim eu queria acreditar que era coisa da minha cabeça’’
‘’Ou no caso da minha cabeça’’ - Eu disse me lembrando dos dois vampiros e da bruxa me olhando como se eu fosse louca quando perguntei se eles estavam sentindo a mesma coisa que eu.
‘’Eu achei que nós imortais não pudéssemos sentir a presença dos ceifadores’’ - Magdalene disse enquanto desembaraçava seu cabelo louro platinado.
‘’Eu nunca ouvi relatos, mais se a Diana sentiu deve ser possível... Você é uma bruxa Elemental certo?’’- 
Eu assenti -
‘’ E qual seu elemento?’’ - Aislin perguntou.
‘’Boa pergunta’’ - Respondi desanimada.
‘’Você não sabe qual seu elemento?’’ - Aislin perguntou com os olhos arregalados.
‘’Não’’
‘’Tipo assim... O que você faz de diferente? Dependendo do que você faz da pra relacionar com os elementos’’
‘’Tipo assim eu incendeio coisas, explodo coisas, deterioro coisas, resumindo eu destruo as coisas’’
‘’Talvez você seja fogo’’- Magdalene sugeriu incerta.
Eu me esparramei na minha confortável cama e me cobri com o edredom de seda 
‘’É talvez’’ - Eu concordei.
O cansaço estava me tomando aos poucos, a voz de Aislin e Magdalene estava gradativamente ficando longe, eu estava entrando em estado de inconsciência quando um pensamente me trouxe de volta, eu me sentei bruscamente na cama.


‘’O ceifador velho estava na livraria’’ - Eu disse subitamente assustada sem motivo.
‘’Você não fez nada, então não tem nada a temer’’ - Aislin disse com desmazelo e um olhar reconfortante.
‘’Com certeza eles vão ficar no pé de quem foi pra cidade, e isso nos inclui.’’- EU disse aflita
‘’Isso é tão problemático’’ - Magdalene esfregou os olhos e se deitou em sua cama - ‘’Deve ter acontecido uma carnificina de humanos pra ocorrer esse drama todo, e por causa de algum imortal idiota esses anjos rebeldes vão ficar passeando por Elyon’’
‘’Isso é o que eu chamo de ato suicida, provocar a ira dos dois anciões e chamar atenção dos ceifadores‘’- Aislin disse com um sorriso sombrio no rosto.
‘’Há séculos não acontece coisa parecida, esse tumulto todo me parece um pouco dramático’’ - Magdalene insistiu
‘’Eu concordo... Mas vocês sabem, quando se trata de ceifadores eles não perdem tempo, qualquer pretexto pra sair daqui com a alma de alguém’’
‘’Uh, eu acho que nos deveríamos dormir’’ - Eu sugeri incomodada com toda aquela história de imortais problemáticos que atraíram ceifadores que querem levar alma de alguém
- ‘’De qualquer jeito, isso não é problema nosso’’. Não era por que o velho tinha me visto na livraria que ele me relacionaria com o quer que tenha acontecido. 
Certo?
‘’Você esta certa, a melhor coisa a se fazer é ficar fora disso’’ - Aislin fechou o livro e se aninhou debaixo dos lençois.
Segundos depois a luz se apagou sozinha.
Eu já estava me acostumando com aquilo.
Pra quer fazer trabalhos manuais quando se pode usar os poderes?

Nós demoramos um pouco para cair no sono, aposto que assim como eu as duas ficaram pensando nos nossos novos companheiros de internato, é claro que eu estava pensando em um especifico, um que não saia da minha cabeça. Aqueles olhos que escondia uma força interior e ao mesmo tempo passava uma alusão de fragilidade, eles não saiam da minha cabeça.
Qual era meu problema? Eu tinha me sentido atraída por um ceifador? Aquilo era o sintoma para começo de masoquismo?Tive que me esforçar pra lembrar que ele estava ali com a intenção de levar a alma de alguém.
Esforçar-me muito.


 Demorou, mais aos poucos o cansaço entorpecente me envolveu, e eu finalmente apaguei deixando para trás as curiosidades e os problemas do mundo real.

Eu tinha a sensação de estar revivendo uma experiência passada. Aquilo parecia um deja vu...
Quando eu cheguei ao começo do longo corredor com carpete de madeira, tirei meus sapatos para não fazer barulho, encostei minhas costas da parede e comecei a me rastejar estilo 007, eu sabia que aquilo era totalmente desnecessário, mais eu tinha que entrar no clima pra consegui o meu objetivo. Chegar à mesa de carvalho. Eu sabia que quanto chegasse a alguns metros da primeira porta eu teria que me esconder, sabia que a governanta passaria checando o trabalho da serviçal no quarto onde minha irmã Bluma ficaria, ela mais do que ninguém levava a sério aquela coisa de merecer tudo impecável pelo fato de pertencer a uma família real, e bem, também porque prepotência era uma de suas maiores qualidades.
Eu podia escutar o barulho do salto da governanta batendo no carpete, aquele barulho era meu indicador, eu saberia a hora de sair quanto não o escutasse mais. Esperei pacientemente, alguns minutos valiosíssimos que eu estava desperdiçando, ou melhor, que governanta estava me fazendo desperdiçar. Finalmente ela terminara de chegar o quarto, aquela era hora de correr. Eu respirei fundo, eu teria que abandonar o estilo James Bond e correr o Maximo que eu pudesse.
 Sem glamour.
 A mesa de carvalho estava apenas a cinqüenta metros de mim, mais o perigo que eu correria quando passasse aquelas intermináveis portas fizeram com que parecesse muito mais.
Era a hora. Um... Dois... Três!
‘’Diana’’ - Quase saltei pra fora da minha pele quando me deparei com aquela figura a poucos metros de mim.
‘’O que você planeja fazer?'' _Ele perguntou se aproximando _''Por acaso você não pensou que conseguiria, pensou?’’ - 
Eu não respondi nada, aparentemente o meu cérebro havia suspendido suas funções. Eu não lembrava mais como andar, falar, correr... Todas essas coisas que são ridiculamente fáceis e automáticas pareciam dificílimas pra mim.
‘’Muito interessante o jeito que você se locomove... Estranho, mais interessante.’’
‘’O que você esta fazendo aqui?’’ - Foram as únicas palavras que eu consegui dizer.
‘’Eu fiz uma pergunta primeiro’’ - Ele sorriu.
‘’Eu, uh... Eu, na verdade, eu só estava...’’
‘’Diana, você sabe que não pode!’’ - Ele me advertiu.
Droga! Ele sabia
‘’O que você esta fazendo aqui?’’- Refiz a pergunta com firmeza.
‘’Infelizmente isso não é da sua conta’’
Minhas funções cerebrais resolveram aparecer de novo, e eu tive um único impulso.
Correr.
Eu sabia que ele me alcançaria facilmente, e mesmo assim eu me desloquei o mais rápido que pude.
Inútil.
Ele se manifestou na minha frente antes mesmo de eu andar uns três metros.
‘’Eu esperava mais de uma Salonen’’ - Ele sorriu diabolicamente. Aquela era uma coisa que eu já havia escutado inúmeras vezes, e sempre havia me deixado triste saber que eu não estava à altura da minha própria família, mais naquele momento o meu medo era tanto que não teve nenhum efeito sobre mim, mais o medo não era por mim, era pelo que estava atrás da porta perto da mesa do carvalho. Eu temia por cada segundo que eu perdia, um deles poderia ser crucial.
Se eu não poderia correr, qual era minha outra opção?
Pensa Diana. Pensa Diana. Pensa! Só me restava...
Gritar!
O meu grito durou uns três segundos no máximo, porque a minha garganta travou, de repente eu não conseguia gritar e nem respirar.
‘’Decepcionante... ’’ - Ele me olhou com desdém. ‘’Eu realmente esperava que você fosse um obstáculo maior, desse jeito eu não vou nem conseguir me divertir’’ - Mais eu vi que pelo simples fato de me ver sufocar ele já estava se divertindo.
Eu estava agonizando, aquela sensação era horrível, eu estava aos poucos e da forma mais dolorosa perdendo a consciência.
O que me manteve foi o meu objetivo. A porta perto da droga da mesa de carvalho.
Quando percebeu para onde eu estava olhando ele gargalhou, daqueles tipos de gargalhos gostosos que damos quando algo muito engraçado acontece.
‘’Sua motivação é inspiradora... ’’ - Ele se abaixou para ficar com os olhos na altura dos meus e então pegou o meu queixo. ‘’É realmente uma pena que você tenha que morrer... Se tivesse feito as escolhas certas poderia ter uma farta vida imortal, a caçulinha e privilegiada Salonen’’
Forcei-me a dizê-lo um ultimo insulto -  
‘’Vá à merda’’ - Cuspi num sussurro.
Ele apertou minha mandíbula tão forte que achei que fosse quebrá-la, e ao mesmo tempo sua atenção estava voltada aos acontecimentos do quarto que eu necessitava chegar. Ao contrario de mim ele tinha mega-super-audição.
‘’Acabou’’ - Ele disse alguns segundos depois com um sorriso psicopata- ‘’Agora é sua vez’’
Acabou? A palavra veio como um golpe
Como assim acabou? 
Não poderia ter acabado!
Eu senti a energia vital escapar lentamente do meu corpo.
Eu estava morrendo? Eu poderia morrer?
A minha agonia foi substituída por preocupação.
Esmond...
A energia que estava esvaziando de mim voltou abruptamente, a minha dor serviu de motivação para meus poderes, que fizeram as janelas de vidros explodirem, aquilo era o suficiente pra chamar atenção de alguém, mais de repente eu não estava mais tão preocupada com alguém aparecer, não tinha mais sentido. 
Já tinha acabado...

‘’Diana!’’ - Uma voz gritou meu nome
‘’Oh meu Deus!’’ - Eu ouvi alguém choramingar
‘’Diana!’’ - A voz gritou mais alto, eu me senti sendo chacoalhada.
‘’Diana! ACORDA!’’ - 
Eu imediatamente abri os olhos, me deparei com a cabeça de Aislin e Magdalene em cima de mim. 
O alivio por ter sido só um sonho me inundou.
Por mais que eu não tivesse entendido nada, a dor tinha sido tão... real.
‘’O que aconteceu?’’ Eu olhei assustada ao meu redor, o que era pra ser a nossa janela estava espalhado por todos os lados, e o magnífico lustre também.
 Por que eu perguntei quando já sabia a resposta?
‘’Eu estava indo tão bem’’ - Disse decepcionada - ‘’Eu achei que tinha superado essa fase’’
‘’Quer dizer que não é a primeira vez que você explode a janela do seu quarto?’’ - Magdalene perguntou assustada.
‘’Não’’ - Eu admiti envergonhada.
Alguém bateu na porta.
Nós três ficamos imóveis por alguns segundos.
‘’Abram esta porta imediatamente’’ - Era Varditte.
‘’O que vamos fazer?’’ - Magdalene perguntou desesperada
‘’Abrir a porta?’’ - Eu sugeri.
‘’Eu abro’’ - Aislin se dirigiu receosamente em passos curtos até a entrada do quarto, mais não precisou se dar ao trabalho de abrir a porta porque no momento em que chegou ela já estava no chão.
Ótimo! Estávamos sem janela, sem lustre e agora sem porta também.
Nunca na minha vida eu tive tanta vontade de ser uma humana normal, imagina o tanto que a minha vontade se intensificou quando eu vi um ceifador atrás de Varditte, pra ser mais especifica o ceifador atrasado dos lindos olhos azuis.
‘’Vocês conhecem as regras senhoritas, se eu bater na porta vocês tem que abri-la imediatamente’’ -  
Caso contrario ela arromba.
‘’Desculpe senhora’’ - Aislin se fingiu de arrependida educada.
‘’É Foi mal’’ - Magdalene disse mal-humorada.
‘’Que linguajar é esse?’’- Ela repreendeu a vampira. - ‘’Eu não admito esse tipo de comportamento senhorita...-‘’
Varditte parou de passar o sermão em Magdalene quando ela olhou o estado do quarto- 
‘’Pelas barbas de Merlin, o que vocês fizeram com esse aposento?’’- Perguntou sobressaltada.
‘’Na verdade Senhora... ’’ - Eu me levantei e Varditte e o ceifador pareceram notar minha presença pela primeira vez -
‘’Eu explodi sem querer’’- Admiti, talvez não fosse o melhor jeito de explicar o incidente mais era a verdade, e eu me sentia na obrigação de me responsabilizar já que por minha culpa o nosso quarto estava todo ferrado.
‘’Você poderia me explicar como se explode um quarto sem querer?’’ - Ela se aproximou lentamente, e eu me senti igual aquelas mocinhas de filme de terror que são encurraladas pelo serial killer. O olho negro e penetrante daquela bruxa era assustador.
Magdalene e Aislin estavam imóveis apenas observando Varditte me encarar, e o ceifador estava parado perto do lugar que era pra estar uma porta igualmente curioso.
Eu tive que fazer um grande esforço pra esquecer o fato dele estar ali, e também pra esquecer que eu estava com o meu pior pijama. 
‘’Na verdade... Eu...’’ - Aquilo não era bom, eu não agia bem sobre pressão, principalmente sobre o olhar de uma bruxa velha malvada, um ceifador inumanamente lindo e duas amigas com olhares desencorajadores.
‘’Eu estava dormindo e daí eu estava sonhando, e no sonho eu estava triste e explodi umas janelas, só que no sonho as janelas não eram do meu quarto, era de um corredor onde eu estava tentando chegar perto da mesa de carvalho, só que tinha um cara muito mal que não me deixava passar e ele estava me sufocando...’’ - Eu falei tão rapido e sem pausas que quase não me entendi.
Respirei fundo - 
‘’Bom, resumindo, quando eu acordei as janelas e os lustres estavam assim’’
O silêncio reinou pelo quarto por algum tempo, aparentemente todos estavam tentando processar o que eu havia acabado de falar.
Eu pude ouvir risadinhas do lado de fora, pra minha surpresa metade das pessoas da torre sul foi checar o que aconteceu.
‘’Todas vocês voltem imediatamente para seus aposentos’’ - Varditte disse sem nem mesmo se virar. E como sempre sua ordem foi acatada imediatamente.
 Eu já mencionei que as meninas da torre sul não vão com a minha cara?
Primeiro foi o incidente com o espelho do banheiro, agora o lustre e a janela do meu próprio quarto. Talvez eu tivesse arruinado minha vida social em Elyon.
‘’Senhorita Salonen, eu vou lhe fazer uma pergunta e você terá que me dizer a verdade’’- Havia tantas perguntas que eu temia que me perguntassem.
‘’A senhorita é dependente química?’’ - Mais daí ela me vem com uma dessas.
Eu tive que conter o riso.
‘’Definitivamente não senhora’’ - Respondi imediatamente.
Ela me olhou desconfiada.
‘’Muito bem’’ - Ela disse depois de me analisar - ‘’Coloque trajes apropriados e se dirija ao meu escritório’’
‘’Sim senhora’’ - Disse no mesmo tom falsamente respeitoso que a maioria dos imortais a tratavam.
‘’Cinco minutos’’ - Ela ponderou.
Eu já tinha visto senhora Varditte em ação quanto suas ordens desacatadas o suficiente por uma Madrugada, e não queria ver de novo.
Coloquei uma calça e uma blusa de moletom o mais rápido que pude e desci correndo até seu escritório. Não antes de escutar as piadinhas das minhas amigas sobre eu ir pra clinicas religiosas tratar meus problemas com drogas. Eu só não retruquei porque tinha explodido nossa janela.

‘’Entre e sente-se’’ - Uma voz masculina disse quando eu bati na porta.
Varditte não estava ocupando sua poltrona, ela estava no sofá de visitantes, no começo eu não entendi o motivo, mais quando adrentei mais vi que quem estava ocupando o seu lugar era meu avô, ele estava sentado com os cotovelos na mesa e seus dedos cruzados apoiando a cabeça, ele parecia exausto.
A madrugada prometia.
‘’Diana’’ - Meu avô disse meu nome como forma de comprimento como era de seu costume.
Como eu deveria chamá-lo?
Vovô seria engraçado.
‘’Tagore’’ - Disse no mesmo tom e me sentei na frente dele.
Meu avô levantou dois dedos e todos inclusive Varditte, saíram da sala.
‘’Senhora Varditte me informou que você explodiu a janela de seus aposentos’’ - Ele começou- ‘’E que isso foi motivado por um sonho... Gostaria de me explicar essa história direito?’’
‘’Foi isso mesmo’’
‘’Não, não foi Diana’’
‘’Eu não estou mentindo’’
‘’Mas é claro que não, você só se enganou’’ - Ele disse calmamente.
‘’Me enganei?’’ - Eu o olhei curioso -‘’O que aconteceu então?
‘’Aquilo foi um mal entendido, você não sabe absolutamente nada sobre o que aconteceu, você só estava dormindo e quando acordou ficou confusa. Entendeu?’’
Eu o encarei abismada por alguns segundos.
‘’Você quer que eu minta?’’
‘’Pelo seu bem’’
‘’Pelo meu bem? Eu não entendo porque devo mentir, afinal eu não explodi por querer, foi um acidente, todos vão entender’’
‘’Não eles não vão’’-Ele disse no seu típico tom controlado.
‘’Por que isso é tão ruim? Com certeza não foi a primeira vez que aconteceu algo desse tipo em Elyon, quer dizer aqui é um campo de treinamento, coisas assim acontecem a todo momento... Não acontecem?’’
‘’Diana, coopere comigo’’ - Ele passou a mão pelo rosto, o seu cansaço era palpável.
‘’Primeiro me explique. Por que eu tenho que mentir agora? Me explique porque sempre eu tenho que mentir’’
‘’Já disse, pelo seu bem’’- Ele me olhou com aquela cara de confie-em-mim que ele sempre fazia quando não queria me explicar às coisas, aquilo me amoleceu um pouquinho. Só um pouquinho. Por trás daquela cara de ditador malvado ainda estava meu avô. Eu acho.
Nós ficamos nos encarando por alguns segundos.
‘’Tudo bem, eu falo que eu me enganei’’ - Eu suspirei me dando por vencida, quando se tratava de uma conversa com meu avô ele sempre saia ganhando. Mais ainda sim, cada vez mais eu me questionava sobre suas escolhas e planos para mim, acho que esse é o lema de pessoas que tem perguntas sem respostas...
 Se questionar.
 ‘’Embora isso confirme as suspeitas de que eu use drogas’’
‘’Você usa drogas?’’ - Ele perguntou sério
‘’Só um backzinho’’ - Respondi amarga.
 Ele não me conhecia bem o suficiente pra saber que eu não sou disso, nunca fui e nunca vou ser?
Não!
‘’Backzinho?’’ - Ele me olhou confuso - ‘’Do que se trata?’’
 Eu tive que rir, Tagore Salonen o bruxo que tinha séculos de vida não sabia o que era um back.
‘’É um tipo de droga’’ - Respondi rindo - ‘’O mais importante é que eu não uso’’
‘’Isso é reconfortante, por que seria inadmissível ter uma viciada na linhagem por toda eternidade’’ - Ele disse sério
‘’É eu imagino’’- Eu engoli seco
Ficou um silêncio desconfortável entre nos, isso acontecia com muita freqüência na minha família, quando se tratava de negócios, castigos e rigidez todos tinham muita coisa o que falar, agora quando o assunto era uma simples conversa entre parentes as coisas ficavam estranhas.
‘’Então... Eu posso ir?’’
‘’Sim, você pode retornar aos seus aposentos, desde que tenha captado bem o recado’’
‘’Eu captei’’
‘’Sendo assim’’ - Ele dirigiu o olhar para a porta. Aquela era sua forma sutil de dispensar as pessoas.
***

Aquela madrugada estava particularmente fria, o meu moletom não estava ajudando muito, o caminho até a torre sul parecia longo, só depois de sair do escritório eu pude perceber o quando eu estava mentalmente e fisicamente cansada, havia tantas coisas borbulhando na minha cabeça, eu queria saber o porquê da visita dos ceifadores, porque eu destruía as coisas sem querer de vez em quando, porque o meu sonho parecia mais uma lembrança do que um sonho, por que diabos eu me sentia estática na presença daquele ceifador, e o mais importante quem era Esmond? 
Pensar em perguntas sem respostas me deixou agitada, eu precisava relaxar. Mas como?
Perfeito! Eu pensei quando vi um banco convidativo a alguns metros de mim, eu nunca gostei de ficar no escuro sem fazer nada, mais de repente a idéia de sentar no banco sob a luz do luar e observar o mar de madrugada me pareceu uma boa idéia. Aquele era um bom momento para meditar.